
SOU CANOEIRO!
José Geraldo Martinez
Sou canoeiro,
neste enorme rio que corre em mim,
trazendo lembranças do menino arteiro,
às margens deste rio sem fim...
O tempo me roubou, magrelo...
Escondeu-me por belas luas!
Depois, me levou singelo
nas cantigas de roda por muitas ruas!
Levou-me por muros de tantas casas,
onde os amigos me esperavam...
Pelos quintais de muitas frutas
nos quais os sabiás cantavam!
Jogou-me nos riachos cristalinos,
nas chuvas que traziam enxurradas,
onde ali soltava meus barquinhos,
nas histórias que vovó contava!
Hoje, trouxe-me aqui,
neste rio que corre em mim...
Ah! Tempo! Ainda me carregas?
Envelhecer desaprendi!
Tarde demais!
Ainda cantam os pardais...
Os içás brincam no arco-íris...
Assustam-me, até hoje, os temporais!
Sinto o cheiro da terra,
daqueles antigos natais...
Ainda colho à margem deste rio as quimeras.
Sinto o frescor dos madrigais!
Ah! Tempo!
Envelhecer desaprendi!
Tenho ainda medo de Saci...
Tarde demais!
Ah! Tempo! Pode estar acabando!
Mula-sem-cabeça...
Conversa besta!
Histórias que vão passando...
Larga-me, por favor, menino!
Mesmo que eu não te tenha sido companheiro...
Envelhecer desaprendi e
por aqui, em meu rio, sou canoeiro!
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