Jardim dos Amigos

entre e fique a vontade,entre flores, músicas, reflexões e amizade *

19 de novembro de 2006

Perfume da Rosa- Almeida Garrett

Quem bebe, rosa, o perfume

Que de teu seio respira?

Um anjo, um silfo?

Ou que nume

De seu trono te ajoelha,

E esse néctar encantado

Bebe oculto, humilde abelha?

— Ninguém? —

Mentiste: essa frente

Em languidez inclinada,

Quem te pôs assim pendente?

Dize, rosa namorada.

E a cor de púrpura viva

Como assim te desmaiou?

E essa palidez lasciva

Nas folhas quem te pintou?

Os espinhos que tão duros

Tinhas na rama lustrosa,

Com que magos esconjuros

Tos desarmaram, ó rosa?

E porquê, na hástia sentida

Tremes tanto ao pôr do Sol?

Porque escutas tão rendida

O canto do rouxinol?

Que eu não ouvi um suspiro

Sussurrar-te na folhagem?

Nas águas desse retiro

Não espreitei a tua imagem?

Não a vi aflita, ansiada...

— Era de prazer ou dor? –

Mentiste, rosa, és amada,

E tu também tu amas, flor.

Mas ai!, se não for um nume

O que em teu seio delira,

Há-de matá-lo o perfume

Que nesse aroma respira.

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