Jardim dos Amigos

entre e fique a vontade,entre flores, músicas, reflexões e amizade *

4 de novembro de 2006

Carta de um Contratado- Antônio Jacinto


Eu queria escrever-te uma carta amor
uma carta que disesse deste anseio de te ver
deste receio de te perder
deste mais que bem querer que sinto
deste mal indefinido que me persegue
desta saudade a que vivo todo entregue...

Eu queria escrever-te uma carta amor
uma carta de confidências íntimas
uma carta de lembranças de ti de ti dos teus lábios vermelhos como tacula
dos teus cabelos negros como dilôa
dos teus olhos doces como macongue
dos teus seios duros como maboque
do teu andar de onça
e dos teus carinhos que maiores não encontrei por aí...

Eu queria escrever-te uma carta amor
que recordasse nossos dias na capôpa
nossas noites perdidas no capim
que recordasse a sombra que nos caía dos jambos
o luar que se coava das palmeiras sem fim
que recordasse a loucura da nossa paixão
e a amargura nossa separação...

Eu queria escrever-te uma carta amor
que a não lesses sem suspirar
que a escondesses de papai Bombo
que a sonegasses a mamãe Kieza
que a relesses sem a frieza do esquecimento
uma carta que em todo Kilombo outra a ela não tivesse merecimento...

Eu queria escrever-te uma carta amor
uma carta que te levasse o vento que passa
uma carta que os cajus e cafeeiros
que as hienas e palancas
que os jacarés e bagres pudessem entender
para que se o vento a perdesse no caminho
os bichos e plantas compadecidos de nosso pungente sofrer
de canto em canto de lamento em lamento
de farfalhar em farfalhar
te levasse puras e quentes
as palavras ardentes
as palavras magoadas da minha carta
que eu queria escrever-te amor...

Eu queria escrever-te uma carta...
Mas ah meu amor,
eu não sei compreender por que é, por que é, por que é, meu bem
que tu não sabes ler
e eu - Oh! Desespero - não sei escrever também!

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